UMA PROFECIA ÓBVIA E RUIM EM ANDAMENTO
No dia 17 de setembro de 2017, um domingo de sol, fui, pela
manhã, ao aeroporto de Confins, região metropolitana de BH, buscar um convidado
para nosso 2º Festival Literário Internacional. Enquanto aguardava, passeando
pelo saguão, vi alguns homens brancos, todos vestindo camisetas
pretas. Quando a porta do desembarque se abriu, eles começaram a gritar Bolsonaro presidente. De longe, vi o
candidato sendo carregado nos ombros pelo grupo, que passou a cantar um trecho do hino
nacional. De longe, liguei a câmera do celular. Estava de camiseta vermelha e
achei prudente manter distância. Nós já sabíamos do que se tratava.
Durante a tarde, fiquei sabendo o que o candidato fez na
minha cidade.
À noite, participei da mesa A Literatura e a
Voz dos Personagens Invisíveis, que abordou a escrita sobre grupos que se configuram entre as
minorias sociais e sua visibilidade literária, com Conceição
Evaristo, Oscar Nakasato e mediação de Dagmar Braga. Foi o
maior público do evento, auditório lotado graças ao prestígio da Conceição. A
conversa foi boa, densa e, ao final, em minha saudação, falei (como improvisei
e não houve gravação, me cito de memória):
Não vou falar de literatura agora. Há um assunto mais
importante porque, inclusive, pode nos impedir de falar de literatura num
futuro próximo. Hoje esteve em Belo Horizonte o deputado, ex-capitão do
exército, o candidato a presidente da república Jair Bolsonaro. Eu vi sua
chegada ao aeroporto. Um bando de apoiadores, homens brancos, parrudos,
vestindo camisas pretas, o recebeu nos ombros cantando o hino nacional e
gritando palavras de ordem. Para mim, uma cena assustadora. Porque sabemos quem
é Bolsonaro: um militar que defende a ditadura, que prega a morte de
brasileiros; homofóbico, racista, misógino. Hoje, à porta da sede da Polícia Federal, ele fez um comício para um público formado por policiais e profissionais similares, quando afirmou que "no meu governo, policial que matar bandido não vai ser preso, não vai ser nem julgado!" Teremos eleição daqui a um ano. Teremos
vários candidatos e cada um de nós vai escolher o seu e certamente Bolsonaro terá
votos. Nossa luta, pessoal, além de trabalhar pelos nossos candidatos, será
também a de evitar que ele chegue ao segundo turno. Mas, se passar, teremos que
usar todas as nossas armas para impedir que ele se eleja. E nossas armas são a
lucidez, a poesia, o bom humor, o diálogo, a música, o teatro, a dança, o
cinema, a presença nas ruas. Porque se ele for eleito, não haverá garantias de
que poderemos nos reunir depois em eventos como este para falar livremente de
literatura ou do que quer que seja.
E ei-lo aqui, destruindo tudo o que pode e o que não pode. Destruiria ainda mais, se não estivéssemos nos opondo, nós, algumas instituições, algumas autoridades, parte da juventude deste país.
ResponderExcluirnão foi impedido de ser eleito, mas não terá sossego enquanto continuar sendo a besta que é
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